sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Moradores de bairro em Nova Iguaçu financiam imóveis pela Caixa sem saber que água vinha de poço

Fonte: Jornal Extra 

A família Quintanilha se esforçou para conseguir comprar a sonhada casa própria e se desdobra mensalmente para pagar as prestações do imóvel, financiado em 20 anos pela Caixa Econômica Federal. Mas bastaram poucos meses para os Quintanilha descobrirem que pararam dentro de um pesadelo e, como diz o ditado, tinham comprado gato por lebre. O abastecimento de água das casas de dois quartos da Rua José Dias Valente, no bairro Ponto Chic, em Nova Iguaçu, não era feito pela Cedae, mas sim por um poço artesiano perfurado pela construtora, a Ganen Empreendimentos Imobiliários.

— Fomos enganados. Quando compramos, pensamos que era água da Cedae. Só descobrimos que não era quando ligamos para pedir a instalação do hidrômetro. Nunca pensei que a Caixa ia financiar um imóvel assim — reclamou a matriarca da família, a salgadeira Maria da Penha Quintanilha, de 52 anos.

Há uma semana sem água nas torneiras, a dona de casa Eliane Costa cansou de tomar "banho de caneca". Ela e o marido, o pintor Roberto de Pontes, estão tentando li$uma bomba própria ao encanamento do poço.

— Não temos acesso ao poço, pois ele fica trancado dentro do galpão da construtora. Só temos acesso ao disjuntor, para ligar e desligar a bomba. $a água dele não está dando vazão — afirmou Eliane.



Infiltrações

A falta de abastecimento regular não é o único drama vivido pelas famílias do Residencial Monte Verde. Na casa de Maria da Penha, os móveis não têm função meramente decorativa, mas servem para esconder os danos provocados pela umidade e pelas infiltrações. A pintura já está manchada, a parede esfarela e os rodapés não conseguem mais ficar de pé. Fotos antigas mostram que a situação já esteve bem pior.

— A parede já ficou com o tijolo exposto. A construtora já consertou duas vezes, mas aplicam uma massa e, três meses depois, está tudo igual. Só fazem um paliativo e, agora, já está assim — criticou Maria da Penha, ofegante por causa da alergia agravada pela umidade.

Além de verem as paredes se deteriorarem gradativamente, os moradores sofrem com o mau cheiro vindo da fossa, localizada na área de serviço. Quando chove, a situação piora, e o esgoto retorna às casas.

Proprietário da empresa não atende

O EXTRA tenta falar com o dono da Ganen Empreendimentos Imobiliários desde o último dia 29. Nahum Ganen Neto atendeu o celular, mas, após ser informado do teor da matéria, afirmou que estava fazendo exames e pediu para a reportagem retornar em uma hora. E não atendeu mais. Nem naquele dia, nem nas tentativas feitas até ontem.

Na construtora, os funcionários que atendiam o telefone afirmaram que dariam o número do celular da equipe de reportagem para Nahum, mas desconversavam quando solicitados para confirmar o endereço do escritório: "Não temos autorização".

Na última tentativa de encontrá-lo, o EXTRA visitou os endereços de Nahum registrados em bancos de dados empresariais, cuja última atualização foi feita em 01/11/2010. Num deles, funciona um restaurante industrial. No outro, o número registrado não existe.

Por fim, o porteiro de um dos prédios construídos por Nahum informou que a Ganen funcionava numa galeria na Avenida Doutor Luiz Guimarães. No local, não há nenhuma placa da construtora, mas uma testemunha confirmou que a Ganen atende na sobreloja 3 e que Nahum visita a sala diariamente. Mais uma vez, deixamos o celular da equipe, mas não houve contato.

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